FOTOAFORISMOS

jueves, 31 de marzo de 2022

Yoga para quem precisa fragmento 1

 

foto Lori de Almeida Bierge - España

"Fiz uma revolução

e agora

busco para meu mundo

outra solução.


troquei um dilema

por um problema


troquei teorema

por trabalho.


a revolução não é solução

ela é um primeiro  passo.


ela não é a mudança.

ela é o último recurso."

                                            Dae Son


No mundo de ilusões em que costumamos nos recrear, esperamos que um trovão de luz anuncie a mudança e basta apenas que nos ponhamos prontos e atentos. Esperança buscada por doquier numa palavra, num livro, num texto, num olhar, n’alguém; enfim num giro copernicano que nos colocará a vida em outro navio; numa narrativa ideal para futuramente nos envaidecer e cortar os ventos de vida contrária.


Existe sim, e surge como o bote salva vidas daqueles que se sentem derrotados cotidianamente. Porém, toda esta luz e barulho das revoluções de toda ordem, estes fogos de artifícios que acompanham os tambores, são somente um a posteriori de algo já acontecido, já engendrado. Quase sempre não permitem que se revelem, em toda sua extensão, as luzes e as sombras do processo de mudança que anunciam.


Esta esperança é uma fria e calculada mise-en scène, uma alegoria anacrônica vendida pelas livrarias e telenovelas. Como uma banda marcial a pisada forte, passam por cima das rosas e espinhos que temos nas mãos, cada qual com sua cor, levando nossas moedas rapidamente.


As biografias verdadeiramente contadas nos deixam pouca esperança de encontrar semelhantes ânimos, para enfrentar o contemporâneo entre a nossa vida e o passado brilhante e realizado de outrem, ou seguir seus mesmissimos passos e sua exemplaridade.


Para toda biografia que revela apenas a luminescência do poder, a grandiosidade e a grandiloquência de um líder, é sabido que existe, numa gaveta escondida, outra narrativa que guarda, em necessário segredo, os dias escuros ofuscados pelo brilho desta biografia imaculada em prosa e verso.


Quanto mais nos aproximamos da luz alheia, mais cegos ficamos.



jueves, 26 de marzo de 2020

O anacoreta I

No longe inverno -
Dentro-entre minúsculos cristais, 
Que flutuam aglomerados
Em nuvens de algodão tingido gasoso -
Um cian
Descobriu em seu destino azul
Um horizonte de triste neón:
Inaparente se próximo;
Frio e pálido se presente;
É belo... se distante... solitário.

foto  Lori de Almeida

lunes, 16 de marzo de 2020

Falsa astrologia ... a Lua em Escorpião



É falso o discurso que vê a verdade como libertadora. Esta verdade não te fará livre. Ela colocará duramente teus pés na terra como correntes, despido diante da realidade e sem sonhos.  É preciso ter muito cuidado com o que se acredita saber. Na maioria das vezes, diante da revelação da verdade, se segue em frente porque não se tem outra opção e porque se é escravo de anseios, desejos e esperanças, mais do que qualquer verdade. Por isso todos guardam um pouco de seu ódio, para si próprio, ainda que tente negá-lo. As circunstâncias te obrigam a enfrentar teus meios e limites, podendo te desmoralizar para que não tenhas mais o controle sobre as coisas. Não resista! Provocarás má sorte, aceitá-lo. Diante da verdade, o melancólico de atitude, usa a resignação - para ele é a única forma de liberdade real. Somente aquilo que não te importa, não te prende. Nem mesmo a verdade.

domingo, 1 de marzo de 2020

Anatomía sutil poema v

foto Lori de Almeida 
Num raio errante de luar
Ao teu quarto deslizarei.
Nestes dedos alongados da luz
Que escapam pelas costelas
De tuas tímidas persianas,
Sobre teu tapete, enquanto dormes
Deitarei.

Num prado de sobrancelhas, me fundirei
entre-quase-abertas pálpebras dormidas,
No teu sono-denso-sonho
Me farei…

Nas pupilas dos teus olhos 
Como na bóveda de um cine-céu,
Nas constelações e lembranças d’alma
Passearei.

domingo, 2 de febrero de 2020

anatomia sutil - poema II

Te amaria sem parar…
foto Lori de Almeida - Barbastro -  España.

Se não fosse pelos efeitos colaterais.

Meu coração tubérculo

Em tambores e artérias

Explode nas pontas dos dedos
Ramos e brotos e flores
Num pulso surdo só dito
A mim.

Fome com amor
Dá em dor 
De escrever.

jueves, 23 de enero de 2020

Falso poema de uma nota só



Serão notas falsas em realidade,
Estas imagens que tanto anoto?

foto  Lori de Almeida

São todas falsas estas notas
Que com meus dedos tanto toco?


Não será tudo falso?
Como uma nota em falso?
Um falso-tato?



Como respostas às perguntas de pouca nota?
Como perguntas que não esperam respostas?

martes, 21 de enero de 2020

caderno de anatomia sutil - poema I

foto  Lori de Almeida


Rios vermelhos 
- Como artérias todas aortas -
Escondem-se detrás das pálpebras fechadas 
- Transparecidas pelo sol -
No tempo dum piscar de olhos 
- Multiplicado por mil.



Repousei minha retina no calor desta luz
Ardente de transformação e tragédia.
Alí descansei meu pensamento 
- que garimpa sem cessar -
Exausto a tantos
Sentidos próprio e alheio.
Respirei ainda em pé o ar
E com ele ainda dentro de mim
Abri meus olhos:
Antes mesmo de saber onde me encontrava,
Alí, em outra poesia...me perdía.
foto Lori de Almeida